A inclinação das ervas – Carlos Lopes Pires

Um livro é sempre um trilho cheio de ossos e desolação à beira da impossibilidade de comunicar. Mais além, até alguém. Aqui, lá, ir, caminhar, vencer distâncias. Assim partem estes poemas para a longa viagem, estas vozes humanas que se escutam por entre a multidão como uma límpida assombração. Paisagem, corpo no limiar da existência. Entendimento do que é fundamento e fermento na multiplicidade do ser. O poeta percorre funâmbulo o gume da vida em precário equilíbrio. Walter Benjamin escreveu “Um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo que veio antes e depois”. Este livro, estes poemas, estas vidas, por vezes tão breves, são a memória inesgotável do que não tem fim e permanece.